Título: O Substituto
Autor: David Nicholls
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 320
Ter a oportunidade de lutar pela carreira dos sonhos deveria ser algo... hmmm... animador, certo? Bem... não tanto para Stephen C. McQueen. Apaixonado (e devo dizer, obcecado) por cinema, peças teatrais, cenas e atores memoráveis, o jovem é persistente e batalhador o suficiente para não desistir da carreira, mesmo tendo interpretado papeis pouco importantes e, principalmente, mesmo tendo interpretadofigurantes em grande parte de seu currículo como ator. A capacidade de fazer um estranho morrer de rir, se encolher de ansiedade ou cerrar os punhos de indignação, ou gritar, chorar, estremecer e suspirar, e tudo isso simplesmente fingindo — bem, se você consegue fazer essas coisas e ainda ser pago para isso, esse deve ser o melhor trabalho do mundo. (página 32)
Atualmente, Stephen trabalha como ator substituto do incrível, desejado e recentemente eleito o 12º homem mais sexy do mundo, Josh Harper. Mais uma vez, teve a misteriosa sensação de que ser o substituto de alguém como Josh Harper era um pouco como o papel de um colete salva-vidas num voo transoceânico: todo mundo fica satisfeito de você estar ali, mas Deus nos livre de ter que usá-lo. (página 30) Em ‘O Substituto’, Londres é (literalmente) palco para uma trama dividida em altos e baixos, marcada pela fama e o sucesso de Josh, em contraponto com a difícil luta de Stephen conseguir um papel de destaque e enfim aproveitar alguma ‘Grande Chance’ para fazer decolar a sua carreira. Além de tudo,Stephen se vê na complicada tarefa de manter um bom relacionamento com a ex-mulher e a filha.
Afinal de contas, essa era a matemática implacável do trabalho do substituto — para Stephen se realizar, Josh teria de sofrer: uma doença incapacitante, um ferimento qualquer, alguma coisa entre uma gripe e uma leve empalação, algo que o deixasse desabilitado por, digamos, quarenta e oito ou setenta e duas horas. (página 27) Apesar de Stephen depender de Josh Harper adoecer ou sofrer algum tipo de imprevisto para poder atuar em seu lugar, o galanteador Josh nunca deixou os palcos, fazendo com que Stephen cobrisse (apenas) seu habitual papel de pequena importância nesta mesma peça.
E, talvez determinados a seguir suas vidas sem grandes mudanças, a (improvável) aproximação de Harpere Stephen faz com que este ‘substituto’ conheça de perto o mundo da fama e a incrível esposa de Harper —o que traz escolhas e caminhos inesperados a todos.
Nunca havia lido nada do David Nicholls, e me surpreendi com uma escrita bem gostosa — e detalhada do jeito que eu gosto! O dia estava escuro, pesado e de um frio entorpecedor. O céu parecia baixo e manchado, o ar tinha aquele gosto metálico de quando ameaçava nevar ou chover forte. (página 268) Em capítulos curtos com títulos simples e objetivos (alguns um tanto engraçadinhos), o autor soube explorar a persistência do Stephen e, apesar de os personagens principais serem claramente estereotipados (o ‘galã’ e o ‘fracassado’), a narrativa não é um simples clichê. Achei muito positivo encontrar os pensamentos das personagens entre as falas, e as várias passagens engraçadas, bizarras e realísticas. ‘O Substituto’ é um bom livro para distração nas férias ou num fim de semana. ♥
Vocês já leram algum livro deste autor? Ouviram falar de ‘O Substituto’?
— Exatamente isso. Mas é assim que se faz. Não para ser famoso, só para ser bom. Fazer um bom trabalho. Encontrar uma coisa que você realmente goste de fazer, e fazer o melhor possível. (David Nicholls, trecho do livro ‘O Substituto’, página 179)